sexta-feira, 26 de julho de 2013

Tristeza se abate sobre Guaratiba, que não terá mais a visita do Papa

'Na lua cheia a maré enche e alaga tudo. Todo mundo sabe', diz moradora.
Comerciante investiu R$ 200 mil em bebidas.

Alba Valéria MendonçaDo G1 Rio

Luiz Lima e a mulher, donos de um bar: R$ investimento de R$ 200 mil (Foto: Alba Valéria Mendonça/G1)Luiz Lima e a mulher, donos de um bar: investimento de R$ 200 mil (Foto: Alba Valéria Mendonça/G1)
Maria Laís Gomes, de 73 anos, chora sem parar desde a tarde de quinta-feira (25), quando ficou decidido que não haveria condições de o papa Francisco manter os compromissos da Jornada Mundial da Juventude no Campo da Fé, em Guaratiba, Zona Oeste do Rio, alagado por causa de uma chuva de três dias. Os eventos foram transferidos para Copacabana, na Zona Sul. Ela é moradora da localidade há 13 anos e queria demais ver o Papa. A tristeza tomou conta dos moradores, disse nesta sexta-feira (26) seu filho José Aristênio Queiroz Gomes, garçom, que vê o desânimo dos vizinhos acompanhando o desmonte do palco onde o Papa rezaria uma missa.
“Moramos bem em frente e minha mãe estava feliz pois poderia ver tudo sem ter que se deslocar muito. Em Copacabana ela não consegue chegar”, disse.
Outra antiga moradora, Maria dos Santos, disse que todos no local sabem que ali é área de mangue e que alaga com facilidade.
“Na lua cheia a maré enche e alaga tudo. Todo mundo sabe”, contou, também triste com a mudança dos eventos para Copacabana.
Ela contou que durante a preparação do Campo da Fé eram tantos caminhões pelas ruas que o movimento chegou a abalar a estrutura de casas.
Morisvaldo Silva, outro morador, mostrava o palco armado na Praça Dr. Raul Capello Barroso onde a partir das 21h desta sexta haveria shows. No local os fiéis fariam uma vigília antes da missa de domingo. Ele disse que, com apoio da comunidade, recorreu às redes sociais e chegou a ligar para o celular do arcebispo Dom Orani Tempesta para pedir que, ao menos, o Papa visite a comunidade.
O Campo da Fé sendo desmontado (Foto: Alba Valéria Mendonça/G1)O Campo da Fé sendo desmontado (Foto: Alba Valéria Mendonça/G1)
O comerciante Luiz Lima, dono de um bar e restaurante que funciona 24 horas por dia, gastou R$ 200 mil no estoque de bebidas - água, refrigerantes e cervejas principalmente - e lamenta o investimento.
"Não é mercadoria perecível mas tenho que pagar os fornecedores na semana que vem. Vai ser um mês complicado", disse ele, que guardou a estoque e carne no freezer.
Ele contou que desde domingo (21), quando começaram a chegar os peregrinos, vinha tendo um movimento considerável, vendendo de 50 a 60 cafés da manhã por dia. Nesta sexta, vendeu apenas 20 cafezinhos. Na quarta (24), teve entre os clientes do almoço 14 colombianos.
O garçom Aristênio lamentava o desprestígio do bairro e antecipava a volta do abandono à comunidade.
“Para preparar o Campo da Fé recuperaram estradas, dragaram rios, consertaram o guarda-corpo de pontes. Isso valorizou Pedra de Guaratiba. Agora acabou tudo”, disse.
Na Igreja de São Pedro Apóstolo, cerca de 2 mil peregrinos estão chegando de São Paulo e de regiões do Sul do país. Simone Cravim veio de São Paulo e tinha acabado de chegar em Guaratiba. A dificuldade agora é como chegar em Copacabana, disse ela. 
Peregrinos na igreja em Guaratiba (Foto: Alba Valéria Mendonça/G1)Peregrinos na igreja em Guaratiba (Foto: Alba Valéria Mendonça/G1)
Caminhada
Os peregrinos que participarão da vigília e da missa de envio nos dois últimos dias da Jornada Mundial da Juventude, sábado (27) e domingo (28), vão caminhar 9,5 km para chegar até Copacabana, às 7h do sábado, onde estão montados o palco principal, anunciou nesta sexta-feira (26) a Prefeitura do Rio de Janeiro. Pela manhã, o prefeito Eduardo Paes havia afirmado à rádio CBN que o percurso seria de 12 km.
Os jovens iniciarão a caminhada – tradicional na JMJ – na Central do Brasil, no centro da cidade. Inicialmente, a peregrinação, a vigília e a missa de envio seriam realizadas em Guaratiba.
A caminhada feita pelos jovens até a vigília é uma tradição das Jornadas, e a manutenção dela, fazendo com que os peregrinos andem um longo percurso, foi um pedido feito pela organização à Prefeitura do Rio, segundo o prefeito Eduardo Paes.
O percurso seguirá da Central do Brasil pela Avenida Presidente Vargas, Avenida Rio Branco  Aterro do Flamengo, Enseada de Botafogo, Rua Lauro Sodré, chegando a Copacabana pelo túnel novo na Rua Princesa Isabel, segundo Carlos Roberto Osório, secretário de transportes do Rio.

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