sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Polícia não considera encerrado caso do assassinato de Vandir

31 de Janeiro de 2014 - 07:00


Após primeiro depoimento com falas desconexas, Alex Sandro Furiati deve ser ouvido novamente

Por Daniela Arbex

A prisão de Alex Sandro Furiati, 34 anos, que se entregou após o assassinato do presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), Vandir Domingos da Silva, 63, não é o ponto final do episódio que chocou a cidade. O empresário foi morto com quatro tiros, na manhã da última segunda-feira, no Centro, quando entrava em estacionamento da Rua Marechal Deodoro. Apesar de a confissão do autor encerrar o inquérito que trata do flagrante do crime, conforme explicou o delegado Armando Avolio Neto, a Polícia Civil admite que poderá haver desdobramentos. De acordo com a delegada regional, Sheila Oliveira, "a autoria imediata do crime foi descoberta, mas não se descarta a possibilidade de uma autoria mediata, ou seja, de um mandante." A delegada disse ainda que, apesar de o curto prazo para a conclusão das investigações - quando há réu preso, o tempo legal para relatar o inquérito à Justiça é de apenas dez dias -, novas diligências poderão ser realizadas caso haja solicitação do Ministério Público.
"Se a promotoria entender, por bem, após o envio do relatório final, que as investigações devam continuar, novas diligências poderão ser realizadas para que seja esclarecido qualquer tipo de dúvida em relação à autoria", explica a delegada, dizendo, ainda, que outras provas poderão surgir. O telefone celular de Alex, por exemplo, está sendo periciado. As futuras linhas de investigação, se houverem, não serão detalhadas. Mas o que se sabe até agora é que Alex, mantido no setor de triagem do Ceresp, vai ser ouvido novamente em outro momento, quando puder depor fora de um aparente episódio de crise psíquica, já que o seu primeiro depoimento ficou obscurecido por falas desconexas.

Novos dados
Quatro dias após o crime que levou a sociedade a pedir mais segurança, novos dados vêm à tona. Um dos que mais chamam a atenção é o fato de o autor dos tiros já ter se envolvido em outro episódio violento contra Vandir há quase oito anos. A Tribuna descobriu que, após trabalhar como vendedor em uma das lojas do empresário por um ano e cinco meses, entre 5 de outubro de 1998 e 16 de março de 2000, Alex voltou a um dos estabelecimentos comerciais de Vandir em junho de 2006, quando quebrou uma das vitrines da loja do empresário onde havia sido empregado como vendedor. No mesmo dia do episódio, ele foi flagrado furtando um CD em um estabelecimento do Centro, sendo, por isso, condenado há quatro meses em regime aberto e pena de multa. Um laudo médico informa que, neste mesmo ano, o rapaz começou a dar sinais de alteração do comportamento e a adotar atitudes delirantes.
Em entrevista exclusiva ao jornal, os pais de Alex, casados há 44 anos, revelaram que, desde o desligamento da loja de Vandir, o filho vinha manifestando raiva contra o empresário e que ficava transtornado a cada entrevista concedida pelo presidente da CDL na televisão. Além disso, acompanhava a vida de Vandir nas redes sociais. "No último final de semana, nós havíamos passado um sábado bem, juntos, felizes. Mas, na véspera do crime, ele disse que aconteceria algo que iria abalar a cidade. Pensei ser mais um de seus delírios. No entanto, quando vi a foto dele sendo divulgada pela imprensa, o reconheci e fui ao quarto procurar, nos seus pertences, a camisa com a qual ele aparecia nas imagens. Não encontrei. Logo depois, Alex me ligou muito nervoso, dizendo que tinha matado um homem e que seria morto, pedindo ainda que eu acionasse alguma comissão de direitos humanos. Eu ainda não acredito. Estou apavorada. Preferia chorar a morte do meu filho do que assisti-lo tirar a vida de alguém. Ele não matou só a família daquele homem, mas a nossa também. Não há futuro para nós, apenas dor e medo. Estamos desnorteados", desabafou , em lágrimas, a cabeleireira de 66 anos, que é mãe de outros dois filhos.
O pai de Alex, que trabalhou por mais de 20 anos como torneiro mecânico em uma empresa, disse que ainda tem dificuldade para acreditar no que aconteceu. "O mundo caiu em cima de nós. Sempre lutei para conseguir formar meus filhos e dar a eles o estudo que nunca tive. Não compreendo. Tenho medo de sair à rua, de alguém fazer algo contra nós, de sofrer represálias. Ainda não entendo o que motivou tudo isso."
http://www.tribunademinas.com.br/cidade/policia-n-o-considera-encerrado-caso-do-assassinato-do-presidente-da-cdl-1.1418986

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