quarta-feira, 1 de junho de 2016

ARTIGO DO GEN EX PAULO CESAR DE CASTRO

Gen Ex R/1 Paulo Cesar de Castro
Muitas pessoas cruzam conosco, com nossos familiares e amigos pelas ruas deste Brasil afora. E quantas vezes os que nos acompanham afirmam: “olha só, esse deve ser um militar”. Eis um Soldado: identificamos de imediato.
 
O porte, o corte de cabelo, o comportamento e o jeito de andar chamam a atenção e destacam os militares dentre tantos transeuntes, fenômeno que não exclui, graças a Deus, milhares de outros cidadãos de traços semelhantes. Serão reservistas? É certo que nem todos, mas centenas, incorporaram os valores da caserna, orgulham-se em declará-los e não perdem a oportunidade de revelar-se.     
Dentre os últimos, lembro-me de filiados a associações de oficiais da reserva e de antigos integrantes de tiros de guerra. Recordo-me, também, dos profissionais de carreira que retornam às escolas militares para se confraternizar, rememorar e inaugurar placa comemorativa de sua formação. A Academia Militar das Agulhas Negras, a Escola de Sargentos das Armas, a Escola Preparatória de Cadetes do Exército e várias outras exibem, em bronze, a gratidão e o carinho de seus eternos alunos. Guardo, ainda, na memória, os que desfilam em público no “Sete de Setembro” e em datas festivas nos quartéis, plenos de júbilo, orgulho e garbo como membros de entidades que congregam: de paraquedistas, de veteranos, de ex-alunos de colégios militares e, até mesmo, de organizações específicas, como os antiaéreos da associação “Amigos da Colina Longa”.

Soldados para sempre, em serviço ativo e na reserva, jovens e encanecidos, homens e mulheres, todos integramos a Força e a inigualável Família Militar.

No Exército, além de sermos recebidos de braços abertos pelos mais antigos, nossos irmãos de Armas, somos acolhidos, também, pela Família Militar: fraterna, solidária, generosa, presente e participativa quando nos apresentamos e partimos de cada guarnição militar. Essa Família comemora conosco os aniversários, os casamentos, a chegada dos filhos, os batizados, as promoções e os êxitos alcançados na vida na caserna. Está presente nos eventos que alegram a vida de todos nós. Ela comunga nossa dor, chora conosco nos momentos de perda, nos consola e nos conforta.

A Família Militar é um bem precioso exclusivo dos Soldados, assim como dos marinheiros e dos aviadores. Ela evidencia, em verdadeira grandeza, nosso compromisso de “tratar com afeição os irmãos de Armas”. Pelo acima exposto, preservá-la, valorizá-la, uni-la e fortalecê-la é parte do dever militar.

Os Soldados distinguem-se, ainda mais, pelo vocabulário que faz parte de seu patrimônio. Não me refiro apenas à linguagem profissional, característica encontrada, provavelmente, em todas as profissões. Menciono, sim, conceitos exclusivos dos militares e que os distinguem na sociedade. Preocupa-me quando ouço outros militares, irrefletidamente, mencionar, por exemplo:

- a necessidade de melhores “salários”. Desde quando militar tem salário ou é assalariado? Somos diferentes de todos os demais, temos remuneração, cuja base é o soldo. Afinal, somos Soldados! Se é bem verdade que urge elevar a remuneração ao justo patamar que nos é devido e corrigir as graves distorções hoje existentes, não podemos nem pensar em mencionar “reivindicação salarial”, mas sim insistir no justo reconhecimento pelo serviço ímpar que, voluntária e diuturnamente, prestamos à Pátria. “Salários” não existem no DNA dos Soldados;

- a “aposentadoria”. Eis outro pecado que, por insistência e influência da mídia, pode nos descaracterizar e levar-nos a um nivelamento não desejado. Militar é transferido para a reserva ou reformado, não se aposenta. Infelizmente, já ouvi uns dos nossos usando esse termo civil e outro, pior ainda, declarando por escrito estar aposentado. Atenção com o idioma, ele é parte da identidade e do patrimônio do Soldado; e

- a “internação” em hospital militar. Desde quando nós somos internados? Nada disso, baixamos e recebemos alta.

Há que evitar várias outras palavras usadas pela imprensa em geral, como tanques, armas pesadas e bazucas. Elas não fazem parte de nosso jargão. Marchemos, vacinados, contra os pecados da linguagem e não abramos mão do idioma característico da vida militar.

Os guerreiros do passado nos transmitiram valores, crenças, tradições, história e exemplos, a cultura militar, em síntese. Com fé na missão, prossigamos invictos, na certeza de sermos sempre identificados, no meio da multidão, como Soldados, homens e mulheres de bem.

Zelemos pelo bem-estar de nossa tão querida Família Militar e não caiamos na armadilha de praticar a linguagem civil, mas tornemo-nos eternos guardiões do idioma militar.

Por fim, enfrentemos os desafios, lembrando que “Ser soldado é mais do que profissão, é missão de grandeza!”. Portanto, avante camaradas, ao tremular do nosso pendão!
http://eblog.eb.mil.br/index.php/component/content/article?id=4241

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