quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Escolas de samba do Rio sentem na quadra e no barracão os efeitos da crise

 Não está fácil para ninguém. A frase dá uma breve noção de como a crise financeira que se abate sobre o país está afetando o trabalho de preparação do carnaval nas escolas de samba do Rio. Há quem busque reduzir custos no barracão, utilize materiais alternativos na confecção de alegorias, suspenda ensaios ou apresentação de protótipos de fantasias.
A crise financeira levou a União da Ilha do Governador a uma medida extrema: a escola suspendeu os ensaios em dezembro, que ocorrem nos sábados à noite na quadra da escola, na Ilha do Governador. Nas redes sociais, o presidente Ney Filardi disse que entendia “a crise financeira e a violência galopante e desenfreada”, da cidade, mas que a escola não tem como manter a quadra vazia.
“É notória a redução de público nos ensaios nas quadras não só da União da Ilha. Todas as escolas estão passando por isso. Sem dinheiro, as pessoas estão contendo os gastos, saindo menos e quem vai às quadras também está consumindo menos. O custo para abrir uma quadra como a nossa é muito grande: energia elétrica, água, ar-condicionado, segurança. O presidente acredita que nesse momento, não dá para ter essa despesa e a quadra ficar vazia”, explicou o diretor de carnaval da escola Wilsinho Alves, destacando a dificuldade de obter parcerias para eventos nas quadras.
Com a crise, carnavalescos têm dificuldade de encontrar materiais importados, como tecido paetê (Foto: Alba Valéria Mendonça/ G1)Com a crise, carnavalescos têm dificuldade de encontrar materiais importados, como tecido paetê (Foto: Alba Valéria Mendonça/ G1)
Com a crise, carnavalescos têm dificuldade de encontrar materiais importados, como tecido paetê (Foto: Alba Valéria Mendonça/ G1)
E as dificuldades advindas da crise não ficam restritas aos ensaios nas quadras. Nos barracões ela também é sentida de perto. Segundo Wilsinho, mais que no carnaval passado, a falta de material no mercado está mais acentuada.
“A crise está institucionalizada. Ela afasta os investidores da cultura em geral. E falta até material para as escolas trabalharem. Fornecedores estão sofrendo com a inadimplência dos clientes e com isso não conseguiram importar, não puderam investir nisso. A gente ia usar um tipo de tecido paetê, mas não encontramos e temos de usar um outro tipo, buscando o mesmo efeito. Estamos buscando novos materiais. A União da Ilha, por exemplo, está comprando material em outros estados, como São Paulo, que é ainda mais barato”, disse o diretor de carnaval.
E nem a campeã do carnaval de 2016, saiu ilesa da crise. Não é segredo para ninguém que a Estação Primeira de Mangueira vive sob o impacto de duas crises: a interna – a escola tem inúmeras dívidas de gestões anteriores - e a do país. Mas isso não chega a preocupar o carnavalesco Leandro Vieira, que aposta na adaptação de materiais para reduzir gastos.
“Como vim do grupo de acesso, já estou acostumado a usar materiais alternativos, como madeira de demolição. Quando pensei no enredo para 2017 já tinha isso em mente. Não fiz um projeto definitivo. Ou seja, ele é adaptável e vai sendo construído conforme a gente vai trabalhando”, explicou o carnavalesco.
Além disso, Leandro acrescenta que foram tomadas outras medidas de economia no barracão. A direção implantamos um regime de trabalho no barracão para reduzir custos. Foi instalada uma iluminação especial, os elevadores foram desligados e as luzes são apagadas após às 20h.
Unidos de Padre Miguel cortou festa de apresentação de protótipos. Fantasias podem ser vistas no Facebook da escola (Foto: Reprodução/ Facebook Unidos de Padre Miguel)Unidos de Padre Miguel cortou festa de apresentação de protótipos. Fantasias podem ser vistas no Facebook da escola (Foto: Reprodução/ Facebook Unidos de Padre Miguel)
Unidos de Padre Miguel cortou festa de apresentação de protótipos. Fantasias podem ser vistas no Facebook da escola (Foto: Reprodução/ Facebook Unidos de Padre Miguel)
Se as escolas do Grupo Especial estão sentindo os efeitos da crise, nas escolas da Série A o impacto é muito maior. A Unidos de Padre Miguel abriu mão de fazer uma festa de apresentação dos protótipos das fantasias para que o carnavalesco Edson Pereira concentre seus esforços na produção do desfile de 2017.
“Na Unidos de Padre Miguel a gente gosta de fazer festa e geralmente são festas grandes, suntuosas para a comunidade, para o povo do samba. Só que isso acaba gerando um custo, o qual neste sentido preferi não onerar. Preferi investir o máximo que a gente pudesse nas fantasias, na reprodução, no barracão. Acho que seria muito mais válido neste ano que a crise está muito mais forte”, disse Pereira, em nota.
Como se vê, cada escola tem um jeitinho particular de superar as dificuldades. Em comum, só mesmo a fé de que, apesar da falta de dinheiro, mais uma vez o Rio terá um grande carnaval em 2017.
Carnavelesco Leandro Vieira diz que escola campeã enfrenta duas crises com cortes no barracão e criativade na execução do trabalho (Foto: Matheus Rodrigues/ G1)Carnavelesco Leandro Vieira diz que escola campeã enfrenta duas crises com cortes no barracão e criativade na execução do trabalho (Foto: Matheus Rodrigues/ G1)
Carnavelesco Leandro Vieira diz que escola campeã enfrenta duas crises com cortes no barracão e criativade na execução do trabalho (Foto: Matheus Rodrigues/ G1)
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/carnaval/2017/noticia/escolas-de-samba-do-rio-sentem-na-quadra-e-no-barracao-os-efeitos-da-crise.ghtml

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